domingo, 19 de julho de 2009

Isto é apenas um relato.


22 de Maio de 2009:

O dia passou muito devagar.
Escola, estudos, notas. Quem precisa disso quando sabe que depois de algumas horas vai encontrar alguém tão especial?

E era isso mesmo.
De noite, meu rumo não era para casa e sim, para o aeroporto.
O dia foi longo, mas finalmente, chegou a hora. Estava em pé, bem na frente do portão de desembarque, esperando ela chegar.
As pessoas passavam, passavam e passavam e nada dela chegar.
Até que finalmente, eu a vi. E ela me viu, claro.
E aquilo foi muito surreal. Nós só nos falavamos por internet, as vezes uma ligação ou outra, e agora ela estava na minha frente! Eu não sabia o que dizer, pensar nem nada. Eu até me lembro dela falando ''É mesmo você? Você é real?'' Após do aeroporto, depois de um longo e confuso caminha para casa, nós chegamos aqui. Jantamos Gnhocchi às 2 da manhã e ficamos rindo na frente do computador até termos noção do horário...
E o dia seguinte ia ser cheio.


23 de Maio de 2009:

Acordamos super atrasadas (noite mal dormida, culpa nossa) e tivemos que sair voando para encontrar as outras meninas.
Chegamos na Paulista (uma hora atrasada) e encontramos todo mundo. Pegamos as malas, guardamos tudo e fomos para a Augusta, comprar óculos.
Era umas 15h da tarde e a Augusta já não tinha mais graça... Até que nos ligam, falando que a fila já estava ENORME.
Eu, entrei em pânico, e então, decidimos ir para lá direto, ao invés de ir só de noite (o que foi ótimo). Chegamos na fila, e ela não estava enorme, mas resolvemos ficar por lá.
O sol ainda estava forte, ficamos sentadas lá conversando, vendo nossos outros amigos, comprando cerveja (promessa feita), indo até o posto que tinha Starbucks e Subway, até que a noite chegou (nesse meio tempo eu descobri que tinha ganhado um concurso de fotografia!)
De noite, minha mãe trouxe cobertores para nós, pois a noite ia ser fria.
Com a bunda no concreto, cantando músicas alto e atrapalhando os outros, com o Caique falando sem parar, com os videos e fotos com óculos, com a ida no Habbib's às 3 da manhã, tentando caçar algum táxi de meia em pleno Estádio do Morumbi, com a invasão no Morumbi onde nós não podiamos entrar, com o palco sendo montado, com as tentativas de dormir...
Tudo isso só pelo dia seguinte.


24 de Maio de 2009:


Era o dia. Era hoje. Conseguido apenas 50 minutos de sono, eu posso dizer que estava mais acordada do que nunca. A ansiedade não me deixava sonolenta.
A fila aumentou, e nós estavamos na primeira parte dela (orgulho!)
Muito sol, muitas pombas, muita água.
Não podiamos sair de lá, estavamos presos dentro das grades. Minha mãe chegou e nós trouxe almoço (grande Lilian) e levou tudo embora! Às 14h da tarde, com toda aquela gente gritando e pulando, conseguimos entrar no Estádio. Saimos correndo e por fim, conseguimos um ótimo lugar (tudo tão perto). Foram mais algumas horas sem fazer nada, esperando.
A primeira banda entrou... Animação, mas a ansiedade continuava.

A segunda... O que foi bem mais emocionante.
E por fim... O pano branco caiu, revelando tudo que eu via nos meus sonhos, mas em realidade.
Eu não sabia o que pensar, fiquei alguns minutos em choque até perceber o que estava acontecendo.
Vou mentir se falar que eu não chorei.
Tudo se passou tão rápido, que apenas me lembro de tudo acabando. Minhas pernas doiam, meus braços, meu corpo inteiro. Eu não conseguia andar direito.
Encontramos as meninas e ficamos lá, caidas no chão, pensando sobre a pior/melhor noite da nossa vida.

Foi tudo lindo. É que eu posso dizer. Palavras não vão ser fortes para dizer o que eu senti.

25 de Maio de 2009:

Era o dia que ela ia embora.

Arrumamos as coisas e fomos para a Paulista, aproveitar São Paulo mais um pouco.
Sentamos num bar, comemos coxinha e era a hora de ir.
Chegamos no aeroporto, fizemos tudo que precisava.

Eu me senti realmente triste, e se ela tivesse me abraçado mais um pouco, eu ia chorar.

Ela foi embora, deixando uma saudade enorme no meio do meu peito.

Sights and Sounds of London Town (fanfic.)


Os raios de sol entravam pela única fresta que tinha da janela velha de madeira, meu olhos já estava ardendo, mas não tinha forças para me levantar, meu corpo estava duro e eu não conseguia me mover.
Minha cabeça doía, como se alguém estivesse matando neurônio por neurônio meu. Não podia mais beber daquele jeito, aquilo ainda ia me fazer mal algum dia.
Me virei de barriga para cima, tomando a inciativa de me levantar e pegar meu maço de cigarros que estava em cima da poltrona suja e com cheiro de pinga, mas nada funcionou. Parecia que meu corpo me mantinha com a cabeça afundada no travesseiro de penas daquela espelunca, e nada ia me fazer sair de lá.
Na segunda tentativa, acho que obtive um maior sucesso, retirei minha cara do travesseiro, deixando meus olhos expostos aos raios da luz solar, gemi.
Senti algo se mexendo ao meu lado, mas não tinha forças nem consciência para virar e ver o que tinha lá, provavelmente, Leah havia brigado com Joe e veio afogar suas mágoas dormindo na minha cama, como sempre fazia. O objeto não identificado ao meu lado soltou um bocejo enorme, e me dei conta de que aquilo não podia ser a Leah.
- Lily? - A voz de Nicholas soou como música para meus ouvidos, acho que não ouvia uma voz tão calma há muito tempo - O que eu estou fazendo aqui?
Não respondi. Nem sequer tinha forças para mexer meus lábios. Eu devia estar em coma alcóolico e não ter percebi, alguém devia ter injetado heroína em meu sangue e eu tive uma overdose, eu estava completamente acabada e sentia cada parte do meu corpo se deteriorando.
Nicholas tocou em meu ombro, com menção de ver se eu estava morta ou apenas fingia dormir, sua respiração estava calma, o que me deixava com mais sono e mais vontade de nunca sair daquele pedaço de colchão, que eu vinha chamando de cama.
- Está me ouvindo, Lily? - A voz dele se aproximou mais ainda, e suas mãos quentes saíram da minha pele fria, o que me fez gemer, gemer de dor.
Consegui finalmente me virar de barriga para cima e observar Nicholas semi-nu, apenas de cuecas se levantando da cama. Consegui, por alguma façanha, me apoiar pelos cotovelos na cama e observá-lo procurar entra as roupas espalhadas pelo chão, suas próprias vestimentas.
Estava um friozinho gostoso, daqueles que eu poderia passar o resto do dia na cama, apenas pensando em como pegar a porra daquele maço de cigarros que estava em cima da poltrona. Eu podia juntar todo lençol, e fazer como se fosse uma corda, arremeçá-lo em direção a poltrona e pescar o maço, mas isso requeriria muito esforço.
- Você não me respondeu - Nicholas se sentou na berada do colchão, já com a camiseta branca do T.Rex, que ele sempre usava. Ele olhou para mim como canto do olho, a cabeça baixa e um olhar triste que não me antingiram nem um pouco. Sentimentalismo nunca me comove.
- Sei lá, Nicholas - Foram as únicas palavras que minha boca conseguiu soltar. Sensíveis? Nem um pouco. Ele não precisava de consolo - Agora dá para você me dar um cigarro?
Ele não respondeu, continuou me encarando com o canto do olho. Tentei me levantar um pouco mais, mas percebi que eu não estava usando nenhuma peça de roupa, o que eu estranhei. Não era possível que tivesse acontecido algo entre eu e Nicholas.
- Caralho, me dá a porra do cigarro - Bufei. Ele se levantou calmamente, ainda com a cabeça baixa e foi em direção á poltrona. Pegou o maço de cigarros e o jogou ao meu lado da cama, ficando em pé e colocando as mãos no bolso.
Abri a caixinha e peguei um cigarro, ainda bem, algo decente de manhã. Estiquei meu braço com muito esforço e deslizei minha mão pelo chão, ao lado do colchão, em busca de um esqueiro.
Bingo! Estavam dentro do sapato de salto que usei ontem à noite. Afinal, o que tinha acontecido ontem de noite?
- Eu traí ela - Nicholas exclamou. Além de inútil, ele era um canalha.
- Nós transamos? - Perguntei, sem muito interesse. Acendi o cigarro e dei uma tragada forte, tentando jogar toda a preguiça e dor pela fumaça branca que sumia com a brisa gelada.
- Acho que sim. Não é todo dia que se acorda nu ao lado de uma garota nua - Nicholas riu irônicamente. Idiota. Não estava no ânimo para piadas bestas e sem fundo construtivo.
- E você amava ela? - Dei outra tragada e me rendi ao cansaço. Deitei de volta no colchão, olhando para o teto.
- Ela quem? - Nicholas perguntou meio confuso. Imbecil, você acabou de falar que traiu alguém.
E foi aí que a ficha caiu. Nicholas namorava Meg há mais ou menos três meses. Ela provavelmente já o traíu várias vezes, não sei porque ele estava abalado em traí-la. Acho que já o tinha feito também.
Não respondi, e acho que com isso ele entendeu o recado.
- Acho que não. Não temos nada em comum, não sei porque continuo com ela.
Bufei. Nicholas era patético. Realmente bonito, mas patético.
- Estou com fome, vamos comer Lils - Ele disse sorrindo, finalmente, para mim. E desde quando ele me tratava com tanto carinho e afeição?
- Não sei se consigo levantar - Ri. Não sei nem como tinha forças para rir. Aquilo doía tudo.
- Eu te ajudo - Nicholas veio em minha direção, e puxou meu braço cuidadosamente, mas eu não me mexi - Vamos, Lils, já deve ser tarde.
- Sai para lá, seu tarado, eu estou pelada - Arranquei uma risada gostosa de Nicholas, que soltou meu braço, pegou o cigarro da minha mão e deu uma pequena tragada.
- Não tem nada que eu já não tenha visto - Isso era verdade. Se bem, que noite passada deviamos estar bêbados e loucos demais para saber com quem iriamos fazer sexo.
Peguei o cigarro da boca dele, e me apoiei pelos cotovelos de novo. Ele deu um sorriso encantador e se levantou do colchão. Virei para o lado e a peça de roupa mais próxima era uma camisa social, devia ser dele.
Apanhei a camisa e a vesti, abotoando botão por botão. Senti o olhar de Nicholas acompanhar cada ação que eu fazia, mas não me importei.
- Toma - Uma calcinha preta pousou ao pé do colchão. A vesti e me levantei, aquilo parecia ser o fim do mundo, e tudo estava girando. Me senti tonta e com um enjôo fenomenal. Nicholas me ajudou a ficar de pé e me apoiou em seus fortes braços. Oh, como aquilo era confortável.

xxx
Descemos a Frith Street em busca de algum lugar para comer, o que talvez fosse algo díficil de achar naquela pequena rua localizada no centro de Soho.
O tempo não estava bonito, e logo logo a chuva ia cair. O céu cinza, cheio de nuvens tampava o sol, deixando toda rua com um aspecto triste, e a neblina tomando conta dos olhos dos bêbados que saiam do Ronnie Scott's, o único bar convidativo de toda Soho, na minha opinião.
Nicholas estava queito, não emitiu nenhum insignificante som o caminho inteiro. Já avistava a esquina da Old Compton mais a frente.
- Onde estamos indo, Lils? - Nicholas perguntou quando estávamos virando a esquina. Você não queria algo para comer? É para lá que estamos indo.
- Valerie - Respondi seca. Valerie era a melhor Patisserie de Old Compton, adorava ir para lá nos dias chuvosos e observar os pingos de chuva caindo enquanto me deliciava com um croissant e um café.
Nicholas apenas murmurou algo indecifrável, ainda devia estar triste por ter traído a namorada, mais uma vez. Eu realmente não entendo homens.
Entramos dentro da Valerie. O cheiro de pães frescos invadiu minhas narinas. Aquilo era entorpecente. A pequena Patisserie com aspecto francês não vazia muito sucesso. Posso dizer que haviam apenas umas três pessoas lá dentro, além de mim e de Nicholas.
- Dois cafés e dois croissants, por favor - Nicholas apoiou as mãos em meus ombros e pediu à moça que estava atrás do balcão. Confesso que Nicholas me conhecia bem, ele sempre sabia exatamente o que eu queria.
- Claro, só um momento - A moça do balcão desapareceu por trás das pilhas de pães diferenciados.
Eu sentia a respiração de Nicholas em meus cabelos, como se ele estivesse inalando o cheiro para nunca esquecer. O que não sei se era algo bom, pois eu não lavo meu cabelo à dois dias, pelas minhas contas.
- Estou fedendo? - Perguntei. Ainda encarando a montanha de pães que estava à minha frente, e que apenas um vidro me separava delas.
- Claro que não, Lils - Nicholas riu - Você está cheirosa.
Oh, ele devia estar se sentindo realmente culpado pela namorada, nunca o vi tão cuidadoso assim.
- Aqui está - A moça do balcão voltou, com os croissants e os cafés. Peguei da mão dela, apenas soltando um sorriso amarelo e fui em direção a uma mesa, perto da janela. Nicholas pagou a mulher e veio atrás de mim.
Comemos em silêncio. Nenhuma palavra dita, na verdade, estava pensando muito para poder falar. Tentando lembrar sobre o que aconteceu na noite passada.
Nicholas não tirou os olhos da janela, devia estar pensando o mesmo. Ou se culpando pela Meg.
- Acho que vou romper com ela - Nicholas quebrou o silêncio e olhou para mim. Fiquei o encarando por cerca de alguns segundos, antes de conseguir responder algo - Não estamos dando certo.
- Então você não ama ela? - Nunca fui boa com conselhos, e acho que não era agora que isso ia mudar na minha personalidade.
- Não - Nicholas deu uma abocanhada enorme no croissant - Acho que estou apaixonado por outra pessoa.
- E eu vou saber quem é? - Nicholas sempre foi um mistério para mim. Nós erámos como melhores amigos na infância, faziamos tudo juntos. Me lembro dele me contando seu primeiro beijo. Me lembro também quando ele me contou da primeira vez que tinha feito sexo com Sarah, a menina mais desejada do colégio. Ele sempre contava tudo muito envergonhado, talvez porque estivesse contando sua vida para uma garota, ou porque estivesse contando para mim, alguém que ele conhecia desde quando se entendia por gente.
Quando atingimos a maioridade, nós nos separamos, cada um foi viver sua vida. Nicholas nunca mais me tratou como a amiga querida que ele sempre fazia de tudo para deixar feliz. E eu, eu tinha mudado demais.
- Talvez um dia - Ele deu um sorrisinho sem graça.
Memórias da noite passada invadiram minha cabeça. Me lembrei que estava no Dog and Duck com Leah, passando o sábado como sempre passávamos, afundando nossas mágoas na bebida.

"- Lily, não olha agora, mas você não tem idéia de quem está entrando por aquela porta - Leah disse. Já um pouco alta pela bebida.
Tudo que Leah me mandava fazer, eu fazia o contrário. Virei a cabeça um pouco para trás, e o vi perto da porta, ele estava lindo e acho que eu não o via há muito tempo.
Nicholas Jonas. Meu amigo mais antigo. Acho que devia fazer quase um ano que eu não o via.
Ele adentrou um pouco mais o bar, com Joe, namorado de Leah à sua frente, o guiando para a direção em que estávamos.
- o que ele está fazendo aqui? - Perguntei um tanto assustada para Leah.
- Calma Lily, eu não sei.
Nicholas podia ser meu amigo mais antigo, e eu podia não ver ele há meses, mas ele me irritava. Me irritava porque ele nunca mais me tratou como me tratava antes, me irritava porque o fato de andarmos com pessoas diferentes afetou minha relação com ele, me irritava ele não se preocupar mais comigo antes de ir embora para Leeds.
- Boa noite, madames - Joe disse, me dando um beijo na bochecha e um selinho na namorada - E acho que vocês já conhecem meu companheiro.
Nicholas surgiu ao lado de Joe, com um sorriso incrivelmente lindo.
- Leah, quanto tempo! - Nicholas abraçou Leah, que apenas riu, ela nunca foi forte com as bebidas.
- Nick, você mudou muito!
Nicholas riu sem graça. Ele se virou para mim, e tentei desfarçar o desconforto bebendo um pouco do whisky misturado com gelo derretido.
- Lily, uau, você está... Linda - O sorriso dele me deixava sem graça. E eu não estava afim de ver Nicholas, não naquele momento. Não respondi, deixando um silêncio constrangedor na mesa.
- Joe, vamos pegar mais bebidas, er... No bar - Leah puxou Joe na direção do bar, deixando Nicholas e eu, sozinhos.
O olhar dele me encarando estava me deixando realmente muito envergonhada. Terminei de beber o whisky e finalmente o encarei, dando o sorriso mais sem graça que meus lábios foram capazes de fazer.
- Vai me ignorar? - Nicholas perguntou. Vou, vou sim. Afinal, o que você está fazendo aqui mesmo? Porque não ficou em Leeds com a Meg, a namorada querida e amada. Urgh, Nicholas me enjoava.
- Não.
- Vamos, Lily, fale comigo. Não nos vemos há quase um ano.
- Que bom que você lembra - Ri irônicamente. A mão de Nicholas pousou sobre a mesa e foi ao encontro da minha, tentei ser rápida o bastante para retirá-la de lá, mas aparentemente, ele foi mais rápido.
- Você acha que eu esqueci de você? - Ele disse, apertando forte seus dedos contra os meus, e fazendo seu polegar deslizar sobre minha pele fria.
- Não tenho a minima idéia.
Eu era cínica, estava bêbada e com raiva. Não me culpe por nenhuma ação que eu estava fazendo.
- Se eu tivesse esquecido de você, não estaria aqui, certo? - Então ele estava lá, sentado no mesmo pub que eu e inha amiga vinhamos todos os sábados, só para me ver? Inacreditável, me desculpe.
- E a Meg? - Nicholas realmente não podia ter abandonado a namorada em Leeds para vir me ver. Acho que sua mente não permetia isso.
- Está em Leeds, não estamos muito bem - O polegar dele parou, por questões de segundos, de fazer carinho na minha pele. Aquilo, tenho que dizer, era uma sensação boa.
- Veio aqui porque quer consolo?
- Não seja cínica, Lily. Eu senti saudades - Ele me olhou inconformado. É, talvez eu estivesse sendo um pouco egoísta, mas isso não muda muito.
- Certo. Acho que preciso de mais whisky - Falei. Nicholas riu e balançou a mão chamando o garçom."

Sorri com a memória lembrada.
Nicholas pegou um cigarro do bolso e ofereceu para mim. Eu tinha cara de que precisava fumar toda hora, por alguma acaso?
Peguei o cigarro de suas mãos e joguei dentro dos restos de café que haviam na xícara.
- Venha, vamos - Me levantei e peguei na mão dele, que me olhou surpreso.

xxx

Andamos até a estação de Picadilly Circus, não sabia ao certo onde estava indo, mas precisava esvaziar minha mente e me lembrar do que aconteceu na noite anterior. Não suporto o fato de esquecer das coisas, ainda mais por culpa da bebida.
Nicholas continuava calado e só me olhava pelo canto do olho, provavelmente tentando entender onde eu estaria nos levando.
Havia esquecido de pegar meu guarda-chuva, e Nicholas era inútil, então não teria nada para nos proteger da chuva, que por sinal, era uma chuva fraca, mas mesmo assim me incomodava, com aqueles resquícios de água que pousavam no meu cabelo.
Descemos as escadas levemente molhadas e sujas da estação, tenho que dizer que Picadilly não era o metrô mais limpo da região de Londres, provavelmente gastavam tudo em luzes neon e se esqueciam que tinha uma passagem subterrânea que precisava estar limpa para ser bem habitada.
- Para onde está me levando, Lils? – Nicholas perguntou, enquanto eu abria um sorriso amigável para Rupert, o vendedor de jornais que estava todos os dias (menos as terças-feiras) parado no mesmo lugar e tentando ganhar algum dinheiro, coisa que ele nunca conseguia. Posso dizer que sou uma frequentadora árdua do Picadilly.
- Tanto faz.
Parei em frente ao mapa do metro para ver se alguma idéia surgia na minha mente, o que eu esperava que acontecesse logo, já que eu já conseguia ouvir o barulho estridente da máquina chegando pelos trilhos.
Nicholas continuava me olhando, parecia que não se cansava. Puxei-o pela mão e entramos no trem, que estava realmente vazio, o que era ótimo, simplismente não suporto pegar metro com velhos me encarando ou crianças tentando ganhar dinheiro vendendo doces.
Percebi que haviamos pegado um metro que estava indo para Harrow, e olhei rapidamente para a linha marrom no mapa que estava exposto na parede amarelada. Regent’s Park, foi a única idéia que surgiu na minha mente.
- Pode me dizer para onde vamos agora? – Nicholas perguntou um pouco irritado. Ele odiava ficar sem saber para onde estava indo ou o que estava acontecendo, não posso culpá-lo, eu era exatamente do mesmo jeito.
-Regent’s Park – Continuei fria e seca com ele. E iria continuar assim até me lembrar o que havia acontecido na noite passada.
- Como nos velhos tempos – Ele inclinou os lábios um pouco para a esquerda, e me deu um sorriso um pouco torto. Eu sentia raiva de observar os olhos castanhos e os lábios perfeitamente finos dele, o nariz exatamente no lugar certo e as bochechas um tanto rosadas pelo frio. Eu tinha raiva de ter tudo aquilo na minha frente e saber que nada era meu. Porque Nicholas tinha voltado para me atormentar mesmo?

“ – Claro que não, Lily, você sabe que eu não me importo só com essas coisas – Nicholas soltou uma gargalhada incrivelmente alta, já que eu não conseguia nem ouvir o que ele falava com aquela música entrando e saindo como balas pelo meu ouvido.
- Ah, não? Com o que mais você se importa? – Comecei a rir exageradamente. Acho que eu já tinha bebido mais do que devia, eu deveria parar, mas meu corpo, nessa altura, implorava por mais. E um pouco de bebida em um sábado à noite não faz mal a ninguém.
- Com você.
Nicholas deu aquele maldito sorriso que fazia qualquer garota cair aos pés dele, e eu não sou uma excessão .
Olhei para ele, tentanto entender se eu havia imaginado aquilo ou se ele realmente havia falado. Aquilo era rídiculo, Nicholas nem ao menos se deu o trabalho de me ligar por um ano, eu sempre soube tudo que acontecia na sua vida por Joe e agora ele simplismente voltava e falava que se preocupava comigo.
- Joe me disse que você conseguiu aquele estágio de fotografia – Ele tentou mudar de assunto, vendo que havia uma ponta de ódio no meu olhar.
- Ah, é verdade... Joe te contou?
- Eu perguntei – Ele falou, me deixando mais confusa do que já estava.
Então no fundo ele ainda se importava comigo, ou devia ter algum remorso de deixar sua pobre e antiga amiga em Londres para fugir com a namorada.
A bebida ainda tomava conta do meu sangue, e eu só tinha uma pequena noção de tudo que estava fazendo e do que estava acontecendo naquele momento.
Senti os dedos de Nicholas retirarem uma mecha de cabelo que estava caída sobre meus olhos, e só então percebi nossa proximidade. Eu sentia o hálito quente dele aquecendo meus lábios, seu nariz roçando ao meu e seus olhos tomando todo meu campo de visão. Não sei ao certo se eu estava entorpecida pela bebida ou pelo seu cheiro aconchegante.
Nicholas grudou seu lábio no meu, e eu cedi, deixando ele tomar conta de todos os meus sentidos. Eu não devia sentir aquela sensação faz muito tempo, ou a bebida estava deixando tudo melhor do que poderia ser. Juntei nossos corpos, tentando não deixar nenhum espaço entre nós.
A música não importava mais, o cheiro da bebida também não, tudo que importava era que eu estava me sentindo viva, e talvez sentindo que Nicholas havia sugado todo o álcool no meu corpo, me deixando um pouco sóbria.
Separei nossos lábios e olhei para ele um tanto confusa, mas com um sorriso irritante que se abriu no meu rosto e eu não era capaz de fechá-lo.
- O que foi isso? – Observei ele morder o lábio inferior e olhar para a minha boca, que devia estar um tanto vermelha, igual à dele.
- Algo que devia ter feito há muito tempo.
Ele juntou nossos lábios novamente, me fazendo esquecer o significado da palavra sóbria.”

Nicholas andava mais à frente, assustando os esquilos que corriam pela grama. Eu estava um pouco mais atrás, finalmente pensando sobre a noite passada.
Então era isso? Ele ia terminar com a Meg? Ele havia voltado para Londres? Ele se preocupava comigo?
Nicholas era mais confuso que eu, mas agora eu podia dizer que meu cérebro estava uma confusão só.
- O que você quis dizer com “algo que deveria ter feito há muito tempo?!” – Puxei ele pelo braço e ele se virou para me encarar.
- Não entendi – Ele entrortou novamente os lábios e elevou a sombranchelha esquerda.
- Ontem, quando você me beijou, você disse que deveria ter feito aquilo há muito tempo.
Ele elevou novamente a sombrancelha e ficou me olhando, não conseguia entender o que seu olhar queria dizer, estava vazio, mas mesmo assim ele não parava de me olhar. Apertei meu casaco contra o corpo tentando me esquentar da brisa fria que havia acabado de passar, minha cabeça ainda doía e o olhar de Nicholas não estava ajudando nada na cura dela.
Bufei. Percebendo que nada ia sair da boca dele. Esse era o problema dele, tudo gira em volta dele, e não dos outros. Quando eu quero uma resposta, ele não me dá e não se importa, quando ele quer uma resposta e ninguém dá, ele fica puto. E eu estava puta.
Rolei os olhos e saí andando pelo parque, não entendo como há tantos esquilos habitanto aquele lugar. O vento começou a ficar mais forte, me deixando ainda mais puta.
- Eu falei a verdade – Ouvi ele gritar.
Parei, estática, sem mexer nenhum músuculo. O parque estava vazio, o que era um pouco estranho, seus passos se aproximavam e senti seu corpo chocar com as minhas costas.
-Porque?
Nicholas segurou meu cabelo e o retirou do caminho em direção ao meu pescoço, fiquei arrepiada com seu hálito fresco que tocou calmamente minha pele. Aquele era meu ponto fraco.
- Porque eu te amo.
Me virei para ele, tentando processar as coisas e beijando-o com toda a força que ainda me restava, ele segurou na minha cintura enquanto eu puxava levemente seus cachos macios. Um frio insuportável tomou conta de todo o ambiente e Nick riu, quando eu me contrai por causa da brisa gelada do inverno britânico.
- Na sua ou na minha casa? – Ele falou acendendo um cigarro, colocando na minha boca e me abraçando pela cintura calmamente.
Traguei o objeto que estava entre meus dedos e apoiei meu rosto em seu ombro.
- Na minha, ainda tem roupas suas por lá.

FIM

That thing you do


: Conhecer gente nova.
: Terminar de ler todos os livros que eu parei na metade.

: Tentar ir bem na escola.

: Sou careta, não fumo nem bebo.

: Tentar dar um jeito no meu cabelo.

: Comprar calças.

London's mine.


Londres. Quantos segundos, minutos, horas eu passo pensando que esse é meu lugar? É onde eu deveria estar, é onde eu queria estar. Londres? London's mine.