quarta-feira, 16 de julho de 2008

Pornô

Croxy, pela primeira vez na vida suando por causa de esforço físico em vez de abuso de drogas, sobe tropeçando as escadas com a última caixa de discos nas mãos enquanto eu desabo na cama, entorpecido e deprimido, encarando de boca aberta o papel de parede bege. Isto é meu novo lar. Um quartinho de nada, de quatro por três, acompanhado por um corredor, uma cozinha e um banheiro. O quarto tem um armário embutido sem portas, minha cama e o espaço exato pra duas poltronas e uma mesa. Não tenho como sentar por aqui: até na prisão seria melhor. Porra, de repente é melhor voltar pra Edimburgo e sugerir que o Frank Begbie faça um negócio comigo, trocando sua cela por este muquifo gelado.

Neste espaço apertado, o fedor acumulado dos cigarros do Croxy é sufocante. Não fumo há três semanas, mas só de ficar perto dele consumo passivamente uns trinta cigarros por dia. Esse trabalho dá uma sede, hein Simon? Vem comigo pro Pepys pra tomar uma? - ele pergunta, e com seu entusiasmo triunfante parece estar querendo tirar um sarro das presentes circunstâncias humildes de Simon David Williamson.

Caralho, se por um lado seria uma loucura total descer pela Mare Street e entrar no Pepys, dando chance pra que todo mundo ria da minha cara e diga "Voltou pra Hackney, Simon?", porra, quero mesmo um pouco de companhia. Bater papo. Relaxar um pouco. Além do mais, seria bom arejar o Croxy. Tentar largar o cigarro na companhia do sujeito é como resolver parar com a heroína em um squat cheio de viciados.

- Você teve sorte de conseguir esse lugar - diz Croxy enquanto me ajuda a desembalar as caixas. Sorte o caralho. Fico deitado na cama e a casa toda se chacoalha quando o trem expresso pra Liverpool Street passa voando pela estação Hackney Downs, que fica a mais ou menos trinta centímetros de distância da janela da cozinha.

No meu estado de espírito, me recolher é uma opção ainda menos plausível que sair de casa, por isso descemos com cuidado pela escadaria deteriorada, com o tapete tão gasto que ficou perigoso como uma geleira. Do lado de fora, a chuva cai misturada com a neve e por todos os lados se percebe uma aura tediosa de ressaca festiva enquanto caminhamos na direção Mare Street e da prefeitura. Croxy, que não tem nenhum senso de ironia, fica dizendo que "Hackney é bem melhor que Islington, sem dúvida. Faz tempão que Islington tá uma merda completa".

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